por Regina Navarro
Alguns acreditam que os prejuízos são grandes e outros defendem essa ideia.
Júlia vive um grande conflito em relação à sua amizade com Sávio: “Somos
amigos e confidentes há muitos anos. Acho até que ele é a pessoa em quem mais
confio. No final do ano passado, Sávio disse que sente tesão por mim e que se eu
também sentir por ele, não vê motivo para não fazermos sexo. Na hora, achei que
não tinha nada a ver. Mas agora tenho pensando nisso. Meu único medo é que, se
transarmos, a nossa amizade acabe.”
Muitos têm a mesma preocupação
que Júlia. Pensando nisso lancei a pergunta no meu site: É possível misturar
sexo com amizade? Esta questão e as respostas obtidas fazem parte do livro “A
Cama na Rede”, que lancei no final do ano passado.
- Alguns acreditam que os prejuízos são grandes:
- Alguns acreditam que os prejuízos são grandes:
“Será que alguém consegue manter uma amizade, só amizade, sem que a
relação sexual com o amigo torne-se um amor grande e profundo? Duvido! Se nesta
relação houver um ardor muito grande e uma união carnal voluptuosa, a coisa
‘esquenta’ e não permanece puramente no plano das visitas ocasionais. Onde entra
o sexo, pelo menos no caso feminino, as emoções crescem e a necessidade de um
pelo outro também. Torna-se então muito difícil esperar que o telefone toque ou
que ele a procure.”
“Estou vivendo uma relação de amizade e sexo e uma coisa eu digo: no
começo é tudo maravilhoso, só que eu descobri que não quero só amizade. Além de
tudo ele é casado e eu sei que vou sofrer bastante para sair desse
relacionamento. Sei também que perdi o amigo.”
“Acredito que é muito difícil misturar amizade e sexo. Quando amigos
decidem manter relações, as cobranças vêm como consequência. O grande problema
é: como começar a namorar outra pessoa sem abalar a amizade? Neste momento estou
vivendo isso: transo com minha melhor amiga e quero namorar outra pessoa. Estou
sem conseguir raciocinar.”
“Quem é que disse que amizade e sexo podem se misturar? Ridícula essa
ideia. Uma coisa jamais combinou com a outra, por mais que as ideias
‘modernosas’ de hoje tentem negar isso. Qualquer ser humano sabe que se você tem
amizade com alguém e transa com esta pessoa, a amizade fica
esquisita.”
- Outros defendem essa ideia:
“Eu fiz sexo com um amigo e foi ótimo, ele se mostrou um excelente
amante, além da segurança de se estar com alguém conhecido.”
“Já tive sexo com um grande amigo. Acredito que amor e sexo são dois
sentimentos que nem sempre estão juntos, portanto, podemos ter só amizade por
uma pessoa e desejá-la sexualmente. Pode-se levar esta amizade tranquilamente,
sem preconceitos e cobranças, pelo resto da vida, desde que haja sempre o
alicerce principal entre os dois envolvidos que é sem dúvida nenhuma, o
respeito.”
“Tenho um relacionamento sexual intenso com um grande amigo. É
perfeitamente possível não abalar a amizade. Há muito respeito entre nós, somos
amigos e somos grandes amantes, mas uma coisa não atrapalha a outra. Não há
cobrança, só respeito e amizade.”
“Eu tenho uma amiga de confidências, e já transamos algumas vezes. Temos
uma atração física muito forte e quando nos encontramos, dependendo das
circunstâncias, vamos para a cama. Mas somos totalmente independentes e
respeitamos se o outro arrumar namorado (a), o que está ocorrendo no momento.
Ela está namorando, mas mesmo assim somos bons amigos. Sabemos que se o namoro
terminar podemos voltar para a cama. Assim é muito bom, sem compromisso social,
que é o grande vilão nos relacionamentos dos casais.”
“Tenho um ótimo amigo... nos conhecemos na faculdade. Há seis anos ele
tem uma namorada. Também tenho namorado, mas quando estou sozinha o procuro para
conversar e sempre a gente acaba transando. Ele não me liga no outro dia, porque
somos somente amigos. Nossa amizade é linda e eu o adoro. Na minha festa de
casamento ele vai estar lá! Sempre será meu amigo. E pode ser que a gente
continue a transar.”
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Apesar de as mentalidades estarem
mudando, muitos ainda acreditam que quem mistura amizade com sexo perde o amigo
e o amante. É uma ideia muito difundida, que tem como origem a associação que se
faz entre amor romântico e sexo. Há quem defenda que para haver sexo é
necessário se estar vivendo um romance com tudo o que ele inclui: ciúme,
possessividade, pavor que o outro se interesse por alguém, medo de ser
trocado.
Essa crença de que amor e sexo têm que estar sempre juntos atinge
principalmente a mulher. O homem não foi educado para ter que juntar as duas
coisas. Muitas mulheres defendem que é da natureza feminina só desejar sexo
quando existe amor, em mais uma manifestação de apoio à limitação da sexualidade
da mulher.
Na realidade, amor e sexo são impulsos totalmente independentes, e é possível
se experimentar prazer sexual pleno totalmente desvinculado das aspirações
românticas. Entretanto, ninguém pode esquecer que existe muito amor nas relações
de amizade verdadeira. Não a mentira do amor romântico – que prega que os dois
se transformam num só e que nada mais no mundo interessa –, mas aquele amor em
que os amigos participam da vida uns dos outros, discutem seus problemas, suas
questões existenciais, são solidários e são até mais importantes do que uma
relação amorosa tradicional. Entretanto, nem sempre se tem desejo sexual por um
amigo. Como em todo amor, pode haver desejo ou não. Mas se houver? Qual o
problema?
A amizade corre sérios riscos se um dos dois criar
uma expectativa de relação com o outro diferente da amizade que sempre houve. Só
porque há sexo, a pessoa se acha com o direito de controlar a vida do amigo, ser
ciumenta, cobrar coisas. Nenhuma relação resiste a isso, ainda mais a de
amizade, que se caracteriza justamente pela ausência de obrigações. O que ocorre
é que muita gente pensa que é livre, que não está mais presa aos modelos que
exigem um comportamento igual para todo mundo, mas de repente se descobre
insegura, desejando uma relação tradicional. Não sabendo bem como explicar seus
sentimentos, sai por aí dizendo que amizade e sexo não podem se misturar.
Psicoterapeuta e escritora
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